Do the D.A.N.C.E.

isa
3 min readJan 13, 2022

Pt 2 de ?

Duas noites se passaram. As aulas da faculdade eram praticamente só apresentações do que cada matéria seria no decorrer do ano. Eu acordava um pouco antes do meio-dia, passava um café e ia fumar um cigarro na sacada do apartamento. Durante a tarde, assistia algum seriado e saía pra dar uma volta pela região. Ainda não tinha feito amigos, ou melhor, colegas. No finzinho da tarde, minha mãe ligava e conversávamos por mais ou menos uma hora. Ela me contava alguma bobeira que estava acontecendo em casa e eu passava a maior parte do tempo dizendo que não tinha novidades, mas que estava me alimentando bem. E isso não deixava de ser verdade. O Restaurante Universitário era um lugar que, por incrível que pareça, realmente se preocupava com a alimentação dos estudantes. Talvez eu estivesse tomando muito café e fumando mais do que deveria, mas ela não precisava se preocupar com isso.

E então, naquela noite, depois de sair do banho, secar os cabelos, colocar meu pijama e sentar na escrivaninha, uma bolinha vermelha na tela chamou minha atenção. Rodrigo XXX queria ser meu amigo, numa dessas redes sociais que a gente costumava usar naquela época. Era uma foto bonita, a dele. Aquelas que parecem que alguém tirou enquanto você não estava prestando atenção e eu nunca tinha saído bem numa dessas.

Fiquei alguns segundos olhando pro fundo da tela do computador, levantei, coloquei um pouco de vinho barato num copo americano, acendi um cigarro e cliquei no botão “aceitar”.

A partir daí, todo o universo do tal Rodrigo XXX se abriu na minha frente. Algumas fotos que pareciam antigas, com a família, clipes de algumas bandas que eu também gostava e a atualização do perfil “cursando Direito em Universidade XXX”.

O copo de vinho estava na metade e a investigação do perfil dele também, quando soou o barulhinho da notificação de mensagem. Era o Rodrigo XXX, que tinha escrito alguma coisa.

- Oi, menina da biblioteca!

Demorei alguns segundos pra raciocinar se ia responder ou não, quando chegou outra mensagem:

- Você saiu correndo, mal deu tempo de te dar tchau!

Ele terminava as frases com ponto de exclamação e isso me deixava irritada. Mas pelas piadinhas que ele tinha feito aquele dia, já tinha imaginado que ele era uma pessoa assim.

Tomei um gole do vinho, respirei fundo e respondi:

- É, desculpa. Eu tava meio com pressa.

Mal tive tempo de tomar outro gole e a resposta veio:

- Sem problemas! — Aquele ponto de exclamação outra vez. — Como é que vão as aulas?

Cara, pera lá, a gente nem se conhece. Por que você tá querendo saber da minha vida?

Mas aquela resposta não fazia meu estilo, então mandei um:

- Ah, estão indo. Só apresentações por enquanto. E as suas?

Por que é que eu tinha puxado assunto? Eu lá queria saber como é que estavam as aulas de um curso chato de um desconhecido? Mas de alguma maneira, aquela foto me prendia.

Corri para cozinha encher o copo com mais vinho, ansiosa pela resposta. Quando voltei pra escrivaninha, lá estava ela, piscando na tela:

- Estão boas! Tenho uns professores fodas! Já me sinto um advogado!

Cara, pra que tantos pontos de exclamação? Será que a vida dele era assim tão emocionante? E se fosse, o que é que tinha de tão errado com a minha?

Peguei o copo de vinho, o cigarro e o isqueiro e fui pra sacada. Não conseguia parar de pensar naquela foto, nas exclamações, no curso detestável que aquele desconhecido fazia e aquilo me irritava. Fui dormir sem ver se ele tinha mandado mais alguma mensagem.

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