Faz calor. Alguns usam máscara, a grande maioria não. O casal está sentado lado a lado. A mulher segura um bebê com uma faixa cor de rosa na cabeça. O bebê chora. A mulher o chacoalha, em vão. As pessoas em volta começam a olhar para a mãe com o bebê. Num gesto inesperado, o homem se levanta e pega o bebê no colo.
“Vamos passear?”
A mãe assente, sorrindo.
Os olhos do homem brilham ao olhar o bebê. É como se qualquer coisa a partir dali fosse possível. Reinos dominados, civilizações abatidas. Ele era dono do mundo, pois carregava e tinha domínio sobre o seu. O bebê parou de chorar e sorria. O pai sorria também.
Caminharam por alguns metros, sob meu olhar. O homem colheu flores, enquanto o bebê olhava sem saber do que se tratava. A todo momento, o homem conversava com o bebê que assentia, como se entendesse o que estava sendo dito. Nunca vi cumplicidade maior do que esta.
O homem voltou, com as flores na mão, sob o olhar atento do bebê. Entregou para a mulher que sorriu. Senti a potência da vida percorrer todo meu corpo. Se aquele casal, com aquele bebê que chorava, podia continuar sua trajetória, quem era eu para desistir? A vida pulsa quando menos se espera. É preciso estar atento aos sinais e continuar.