Solidão de volta

isa
2 min readAug 24, 2023

Tomo um café de madrugada e tento escrever no escuro da mesa da varanda, num caderno sem linhas. Nada mais perfeito para os pensamentos tortos que tomam minha mente. Escuto aquela banda que me faz pensar numa época tão perturbada e ao mesmo tempo tão cheia de vida. Para onde foram esses dias?

Éramos um grupo, um amalgamado que transbordava a adolescência tardia e a juventude transviada. Até hoje tento encontrar qual foi o momento em que tudo isso se partiu. Em vão.

Hoje só consigo acompanhar fragmentos de cada vida por um binóculo antigo, enquanto a minha parece estagnada, nadando contra a maré do amadurecimento, precisando de um microscópio. Volta e meia, com gigantes intervalos, só consigo trocar meias palavras, “sim, estou bem”. Espero que saibam que é apenas um jeito educado e preguiçoso de manter contato porque eu sei que seria impossível voltar ao que era antes.

A festa acabou, eu fiquei num canto sem mais nenhum drink que pudesse me estimular a nos manter ali. A me manter ali. Era hora de alçar novos vôos, mas eu não sei voar. Enquanto isso, caminho devagar, sem me dar conta do tempo e espaço. Tentando lidar com os buracos que foram deixados. Mas são tantos buracos — eu sei, talvez propositalmente feitos por mim- que não encontro argamassa suficiente no cotidiano.

O café, os cigarros, as cervejas sem álcool saem tão rápido quanto entraram. Mas ainda bem que a playlist se engana e acaba tocando uma música que põe fim ao desabafo. Afinal, nada tão difícil quanto dar de cara com o fim.

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